9 de abr. de 2016

Toda alma precisa de uma varanda.

Outro dia, lendo a passagem de um livro me deixei levar por lembranças...
da varanda.
Estreita, retangular, não muito cumprida. Uma das laterais dava acesso a cozinha da casa; a outra tinha um cercado branco com uma pequena abertura por onde se acessavam degraus de cimento que, por sua vez, iam dar na garagem. Uma das pontas descia para o jardim da frente da casa, em apenas dois degraus. A outra dava para  para o fundo do terreno, uns cinco, seis degraus: um gramado enorme que levava ao galinheiro e também a uma lavoura que, dependendo da época do ano, se recheava de abóboras, morangos, pepinos, pimentas, vagens, feijões, tomates e milhos e por aí vai. O piso dessa varanda era de um vermelho escuro que brilhava quando encerado. Adorava ficar na varanda seja brincando, seja sentada, deitada, em pé. Às vezes, ficava sentada nos degraus olhando o movimento da rua, ouvindo os adultos conversar aos fins das tardes ou vendo meus pais e bisavó arrumarem o jardim. Às vezes sentava nos degraus dos fundos para ver a plantação...ou os vizinhos do fundo. As varandas continuaram presentes em minha vida. 

Já estive em uma varanda com janelão enorme que surgiu depois da sala de estar. Além da brisa ao findar da tarde, o que me encantava era a luz do sol pela manhã e as plantas, pássaros e borboletas que moravam por lá: trepadeiras, beijinhos, violetas coloridas, temperos (salvia, alecrim, cebolinha, entre outros que se revezam pela época do ano). Todos comungavam do mesmo espaço, do mesmo vento, da mesma luz...chuva...sol durante manhãs, tardes e noites. 

Uma vez estive numa varanda movimentada. Aliás, movimentadíssima! Noites, tardes e manhãs de sons: carros, conversas, buzinas, raramente cessavam...raramente a janela que lhe dava acesso permanecia aberta. Todavia, por momentos se estendia um tapete acompanhado de duas ou três almofadas e o céu estrelado e enluarado se tornava meu teto, especialmente nas noites de verão!

Às vezes, espio por uma varanda pequenina e estreita os desenhos que as pedras fazem no mar, ouço o barulho do vento e da chuva nas árvores no jardim e guardo sensações que ali, ali sempre terei mais que um lugar... terei aconchego!

Em alguns poucos momentos tenho estado em uma varanda cumprida, estreira, clara; metade que escondida por detrás de uns arbustos; presenteada com sons de seres caseiros e bagunceiros (rsrsrs) e leves e sonoros sinos dos ventos. Outrora muitas e muitas conversas por tempo que já se foi aconteceram costuradas por ali. Brindes foram feitos. Risadas foram dadas. 

Outra varanda que ainda frequento vem depois de uma porta marron, de madeira antiga; dá vista para Pracinha dos Bandeirantes, às vezes com pombas, às vezes sem pombas. Também tem piso vermelho! Tem duas cadeiras brancas e o vento do fim da tarde é brisa que refresca o olhar. Uma varanda simples que fica no primeiro andar de das casas mais antigas da Pracinha. Eu já elevei meus olhos muitas vezes da Pracinha em direção a esta varanda apenas para ter certeza que alguém me cuidava! Nesta varanda tenho afetos e conversas com meus avós e demais familiares!


Cheguei a uma conclusão: 

Toda alma precisa de uma varanda!

Outono de 2016 (Março)