18 de jul. de 2010

ENTRE OS MEUS MUITOS PRAZERES.
(2010).

Quando cozinho minha criação se cumpre no pensamento!
O que me conduz não é, necessariamente, a composição dos alimentos,
dos temperos ou a harmonia da bebida.
Mas o que tudo se realiza com algum passar de horas. Ou minutos!
Ocupo-me do degustar das satisfações alheias
que minutos dantes se viam a observar com o olhar voraz
o meu movimento de cá pra lá.
Afinavam os ouvidos atentamente ao tinir dos talheres e das panelas sobre o fogo
como uma sinfonia de ruídos combinados aos sabores que surgem.
Aguçavam o olfato à mistura dos cheiros.
Por fim quem se apraz sou eu.
Delicia-me o paladar sentimental aquele misto de contentamentos
pós consumo da refeição ofertada,
cujo tempero maior está no simples encanto de servir
.
CIDADES.
(2010).

Cidades
Nichos de humanos de culturas tantas.
Templo de expressões marcadas e marcantes.
Cantos sagrados de reclusão,
de misturas,
de convivências.
Luzes que pagam... acendem.
Águas que correm... escorrem abrindo caminhos.
Cascatas de telhados
Idas e vindas de vielas, de ruas, de estradas, de calçadas;
encontros de esquinas.
Que integram extremos de distâncias próximas ou longínquas.
Pontes Ruídos que expõem fábricas, lojas, carros, animais, vegetação, pessoas.
Jardins que embalam afetos, abraços, discussões e diversões. Testemunhas silenciosas de encontros e desencontros. De começos e fins.
Cheiros intensos que estimulam ou espantam a curiosidade.
Praças que guardam profundamente lembranças de travessuras perdidas,
mantendo-se presente às futuras.
Edifícios que sobem altos andares na esperança de alcançar o infinito do céu.
Túneis que penetram as entranhas íntimas da terra abrindo veias artificiais.
Entulhos, lixos, detritos de restos dispensados, ignorados e, às vezes, reinventados
pelas próprias mãos que o produziu e, em algum momento, o descartou.
Placas, cartazes, outdoors informam o instante do que foi o ontem, do que é o hoje
e do que será o amanhã.
Cidades,
que recebem a luz dos dias e os brilhos das noites;
os perigos constantes e os novas ameaças.
Cidades,
Espaços que nos aproximam e nos afastam no constante ir e vir das cidades.
COMPOSIÇÃO DE GENTES.
(2010).

Quando penso fico a rememorar.
O peito aperta e como pouco mais que de repente
surgem as poucas palavras, assim, quase sem notar...

Gente alegre,
Que carrega no rosto a espontaneidade do bom humor,
aliviando-me pesares e disseminando sorrisos contagiantes.

Gente amada,
Que me cura o Espírito com um simples olhar de compreensão
e que sara o corpo com o mesmo simples gesto de afago.

Gente amiga,
Meus refúgios tranqüilos para momentos complicados;
que me permite sentir e desejar que as horas
passem b e m d e v a g a r!

Gente ouvinte,
Além do ouvido, uma alma a escutar...
sentir, sofrer, alegrar-se conjuntamente.

Gente de Fé,
Vem cheia de esperança em quaisquer situações,
provoca-me compaixão por qualquer ser e avança
Com profusão na sabedoria das almas.

Gente comovente,
Sensibiliza por não precisar explicar,
apenas por estar.

Gente constante,
Indispensável figura para assegurar minha confiança
frente às necessidades e emergências da vida!

Gente consciente,
Que possibilita discernimento,
conduz à razão das questões existenciais,
tornando-me cada mais consciente da responsabilidade de existir.

Gente indecisa,
Que faz pensar sobre as indecisões,
sobre o ritmo das escolhas
e o peso das opções.

Gente definitiva,
Com sua presença inevitável do estado infinitamente permanente
dá-me objetividade a constante inconstância de ser.

Gente serena,
Que faz o aturdido parecer equilibrado
transformando meus devaneios com delicadas e meigas atitudes e palavras.

Gente triste,
Que vai minguando, sem saber bem o quê fazer,
o quê pensar e, por fim, mas não menos intenso, o quê sentir.
Machucada a alma se torna vulnerável e mesmo temerosa de existir.

Gente emocionante,
Que me traz tantas emoções distintas ao mesmo tempo,
cuja intensidade se revela sensivelmente no mais ingênuo dos gestos.

Gente envolvente,
Que me convida a celebrar a vida desde os seus primitivos instantes.

Gente estranha,
Que vem de tantos lugares e distintas direções
impacientando meus sentidos sobre o desconhecido.

Gente gostosa,
Que do inusitado acende sorrisos a todos os meus sentidos
incendiando a esfuziante alegria de ser humano.

Gente generosa,
Que me faz gostar de me surpreender
com atos de bondades alheias.

Gente infantil,
Que me faz brincar inocentemente com coisas sérias
E que me faz rir leve quando dos meus tropeços.

Gente introspectiva,
Que me faz refletir sobre a necessidade de nós mesmos
E me fortalecer diante de um mundo que intimida e assusta.

Gente inteira,
Que me ensina harmonicamente a ser parte interligada deste universo maior.

Gente inteligente,
Que me faz admitir as falhas sem vergonha,
que me faz sentir capaz de resolver problemas,
que me credita a possibilidade do erro sendo possível convertê-lo em acerto.

Gente irritante,
Que me desequilibra
fazendo buscar o melhor de mim para alcançar a quietude no coração.

Gente justa,
Suscita a sintonia suave do corpo, do espírito, da mente
Compondo o ritmo compassado e sereno entre a razão e a emoção.

Gente mentirosa,
dispara desvios no caminho
cujas conseqüências lastimáveis machucam até o Espírito
daquele que, mesmo longe, ainda atinge.

Gente misteriosa,
Traz o estranho desconhecer
de algo que nos parece, somente nos parece familiar.

Gente neurótica,
Por descompensar pelos extremos mais comuns a todas as pessoas
conduz-me a compaixão.

Gente solitária,
Que entra num divagar constante
tentando reinventar a própria companhia.

Gente tímida,
Que chega devagar, observando,
de soslaio submerge no íntimo de onde receia estar.

Gente otimista,
Chega na hora certa, no momento certo,
com a palavra certa e sorridente,
traz-me a sensação de um bem-estar pleno!

Gente acolhedora,
Muito além do ouvir
Oferece o aconchego de um sempre abraço afetivo,
um colo de momentos quaisquer.

Gente paciente,
Que sabe, mais que qualquer virtude, a paciência
compõe a verdadeira sabedoria do descobrir
o mais intenso de mim mesma.

Gente companheira,
Que bem de juntinho traz vontades de deleites mil:
Conversar, cantar, dançar, orar, meditar, escrever,
sorrir, chorar, comer, dormir, correr, andar, apaixonar, amar
acreditar, duvidar, reclamar, abraçar, silenciar...
Entregar-se a vontade de apenas estar em companhia!

Gentes reais dos caminhos que volta-meia me deixo encontrar!