21 de fev. de 2012

DA TRISTEZA.

Dizem que os grandes poetas gostam de escrever a tristeza. No fundo penso que eles simplesmente a deixam fluir da forma que mais lhe parece representativa. Assim como os músicos, os pintores, os escultores, os literatos. Mas, e a gente comum não se entristece? Os motivos são aparentes. Ou transparentes. Por egoísmo próprio ou pela compaixão das dores do mundo. Pode ser provocada por um gesto, por uma palavra, por um acontecimento. Ou simplesmente...por um não acontecimento, uma palavra não dita, por um gesto não existido. A tristeza sempre aparecerá. Muito embora não saibamos do seu momento. Fato é conseguirmos senti-la sem paramentos de sedação. Da época em foco é uma surpresa ainda darmos passagem à tristeza. Dentro de uma agitação cotidiana. Um corre-corre de lá pra cá; de cá pra lá. Há tanta coisa para fazer que resta pouco tempo. Cabe-nos o alento do sentir triste. Neste caso, sentir é um verbo conjugado de forma interna. Que aquece o espírito mesmo que seu sentir seja por uma tristeza. Um profundo retiro de minha dor em mim mesmo. Um entusiasmo contido retratado num silencio intenso. A tristeza, sentimento covardemente expulso do mundo por propagandas coloridas. Sons estupidamente alucinatórios. Sorrisos plastificados. Gestos mecanicamente gélidos. Agitação constante de um não parar para pensar; para sentir. Mas estranhamente no silencio triste da tristeza estende-se um caminho de melhor conversa consigo mesmo àquele que se permite faze-lo. E no construir desse diálogo meio atravessado a tristeza acaba saindo também. Acenando como quem está indo ao longe, sua imagem desfalece no espaço do tempo dando lugar a outro sentimento. Quiçá outra tristeza. Sabe-se lá!

Controversa ou não, triste mesmo é negar-se a sentir.

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